Ação da PM eleva custo, diz morador de favela

Ocupação policial em Paraisópolis, em São Paulo, e em Cidade de Deus, no Rio, encareceu cara a vida de seus moradores
Com ruas esvaziadas, comerciantes lucram menos, enquanto ações do governo e maior segurança elevam preço de casas e aluguéis
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
As ocupações policiais e a presença do poder público nas favelas de Paraisópolis, em São Paulo, e Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, livraram as comunidades de traficantes e elevaram ao mesmo tempo a qualidade e o custo de vida, segundo os moradores. A Folha esteve em duas das maiores e mais simbólicas favelas de SP e do Rio e ouviu moradores e agentes sobre o impacto da ação.
A presença de forças de segurança -400 PMs em Paraisópolis e cerca de 300 no Rio- e ações governamentais fizeram subir os preços de casas e os aluguéis. Com menos Kombis, motos e sem mototáxis circulando, as ruas esvaziaram, e o lucro dos comerciantes caiu.
Os moradores estão satisfeitos. No Rio, gente que havia deixado a Cidade de Deus devido à violência -contada em jornais, livro e filme- começa a voltar, com o fim do tráfico ostensivamente armado. A reportagem andou lá tranquilamente, sem ver traficantes armados nem ser abordada.
Em Paraisópolis, já não se viam armas na rua com frequência, mas traficantes e drogas desapareceram. Também sumiram as máquinas caça-níqueis -que renderiam até R$ 1.500 por semana. Na Cidade de Deus, a PM estourou centrais clandestinas, e já não se desfruta da “gato net”, que, por R$ 20, garantia TV a cabo com pay-per-view. Como depósitos de gás e Kombis, o “gato net” era o braço financeiro do tráfico. Segundo a PM, operadoras estudam uma “tarifa social”. Já há antenas de TV por satélite.
Ocupação
Paraisópolis foi ocupada em 4 de fevereiro, após confronto pela morte de um morador pela PM; a Cidade de Deus, desde 11 de novembro, é uma das três favelas ocupadas permanentemente pela PM comunitária -além de Santa Marta e Batam. “O tráfico que constrange, com fuzil, não existe mais na Cidade de Deus.
Acabou o tráfico? Não. Continua o varejinho, do consumidor local”, disse o tenente-coronel Luigi Gatto, comandante do 18º Batalhão, responsável pelo UPP na favela. O Bope instalou uma base na favela.
Nos dois lugares, a PM prendeu em flagrante, cumpriu mandados e apreendeu motos e carros irregulares ou roubados. No Rio, traficantes fugiram para a Chatuba, na Penha.
“Estamos prendendo gente e apreendendo drogas; é de se presumir que índices criminais caiam”, disse o capitão Macera, da assessoria da PM de São Paulo. A ocupação permanente, com polícia comunitária e a presença do poder público, é a forma mais adequada de redução de crimes em áreas de risco, na visão de especialistas.
“Para reduzir homicídios a polícia tem de entrar e ficar”, diz a socióloga Silvia Ramos, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, no Rio.
Com as abordagens da PM e as ruas vazias, o comércio vende menos, mas alguns comerciantes aplaudem mesmo assim. Os bares que lotavam até as 4h, hoje fecham às 21h, em um toque de recolher informal.
Aluguéis
Com a presença efetiva da PM e do Estado, subiram os valores de casas e aluguéis. Em Paraisópolis, outro fator inflaciona o mercado imobiliário: a Prefeitura paga “aluguel social” de R$ 400 a moradores em situação de risco até que novas habitações fiquem prontas.
“Agora, dois cômodos sai por R$ 400. Não acha e quando acha, é um “preção'”, reclama Delisfá Maria de Jesus, 60. Seu filho Josemar, vigilante, perdeu o emprego e foi despejado. Na sua casa, quando chove, entra água. “Fica cheio de esgoto.” As casas locais são anunciadas de R$ 10 mil a R$ 55 mil.
Na Cidade de Deus, o impacto do fim da violência e da valorização atraiu muitos ex-moradores a voltar. A Secretaria de Segurança do Rio e a PM de São Paulo não informaram o custo operacional.
FSP 15/03 Cotidiano

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