Em Paraisópolis, a tranquilidade aumentou

EM SÃO PAULO
A Paraisópolis de hoje pouco lembra a plantação de abóboras e mandioca de famílias de imigrantes japoneses, com rios limpos e caçadas a veados e tatus que Nélson de Araújo, 64, conheceu há 50 anos.
A comunidade em que vive hoje tem pouco mato, muita casa e comércio, padaria com TVs de plasma e ar-condicionado, som de carro, trufas a R$ 1,50 e até consultórios de dentista. As ruas estreitas são asfaltadas, e os japoneses deram lugar a nordestinos, como a mulher de Nélson, pernambucana.
Com alunos paulistas filhos de migrantes, a Escola Estadual Maria Zilda faz um trabalho de resgate de identidade e cidadania dos meninos, para evitar que se sintam estigmatizados, ainda mais depois do episódio de violência do mês passado.
“É um lugar bom para se morar”, diz Francinilda Oliveira da Silva, moradora e voluntária na cozinha da associação de moradores. É a opinião da maioria, que tem orgulho de morar ali e de estar perto de tudo. O episódio de violência, que feriu a tiros três policiais, no início de fevereiro surpreendeu a todos.
Não que ninguém soubesse dos traficantes e dos “noinhas” que usavam e vendiam drogas nas esquinas de Paraisópolis. Mas é que a reação e o tumulto comandados pelo tráfico e apoiado pelos jovens “embalistas” [aqueles que foram no embalo, segundo um morador] nunca tinham sido vistos por ali.
Diferentemente das favelas do Rio, em Paraisópolis, armas de bandidos não são vistas por qualquer um na rua.
Sossego
Paraisópolis é tranquilo, todos insistem -“Não tem esse negócio de bala perdida como no Rio”, diz Arnaldo Araújo- mas ficou ainda mais, com a chegada da polícia. “Dá mais paz e sossego. Antes a música virava a noite. A maioria está achando bom”, disse o porteiro Beto Costa, segundo quem a polícia o revistou “sem violência, com delicadeza”.
Alguns discordam. “A liberdade que os moradores tinham antes, não tem mais. Acabou. Outro dia tive que esperar dez minutos para uma PM feminina me revistar. É o certo, mas é chato. Dá ao mesmo tempo segurança e medo”, contou Renata Araújo, 16.
O poder público aparece nos relógios de luz instalados nas casas e em especial na atuação da prefeitura, na construção de casas populares, obras de saneamento, no “aluguel social” e na presença do novo CEU, onde ainda faltam aulas em nove turmas, da primeira, segunda e quarta séries.
É a prefeitura que Nélson Araújo culpa por hóspedes indesejados que não o visitavam em sua adolescência em Paraisópolis. “Agora, tem ratazana na minha pia. Matei um dia com a ratoeira, no outro dia apareceu outra.” Segundo ele, a prefeitura derrubou casas para fazer uma rua e não retirou o entulho. No local, há sofás velhos e até uma TV.
FSP 15/03 Cotidiano

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