O mistério da mina em Paraisópolis


Do Blog Mural na Folha de SP

O mistério da mina em Paraisópolis
Por Vagner de Alencar
“É uma mina”, garante enfaticamente Francisco de Assis Silva, 47, há 28 anos morador de Paraisópolis. “É uma coisa bonita, se pudesse ser preservada… Até para a molecada tomar banho. Seria um divertimento para as crianças e raiva para os pais delas”, ri.
Galdino Henrique de Souza tem 56 anos e há uma década é morador da comunidade. Proprietário de um barzinho na viela próxima à suposta mina d´água, ele revela que filas gigantescas foram formadas quando sofreram problemas de escassez de água vinda da rede de abastecimento. “Naquele mês em que ficou uns quatro dias sem água, aqui fazia fila a perder de vista”.
Localizada em uma das áreas mais precárias de Paraisópolis, o local da mina, antes ocupado por entulho e mato, agora está situada entre barracos de madeirite.
“Tanto faz faltar água, como chover, que a intensidade que sai daqui é a mesma”, diz o cantor de forró Elismar Fernandes Nogueira, 24. A água que saía aleatoriamente das vielas, agora ganhou um percurso definido devido ao cano colocado recentemente por moradores. “Era só um poço, daí a gente pôs cimento e colocamos o cano”, afirmou Elismar, que está desempregado.

Há outras duas minas na comunidade, sendo que uma delas deu nome ao local onde fica _“Viela da mina”.
Armelinda Barbosa de Lima, 38, é recém-chegada ao bairro, mas conta que o filho de 3 anos sempre toma banho com aquela água, principalmente depois que foi colocado o cano pela comunidade. “Quando ele não quer tomar banho no chuveiro, ele vai lá”. Ela garante que não teme nenhuma doença. “Nunca tivemos nada. O sabor é até melhor que o da torneira. Parece água mineral”, diz.
Há quem acredite que ali seja uma saída de esgoto, mas segundo a recicladora Armelinda, mais cedo ou mais tarde todos acabam utilizando a água da mina quando a que deveria vir da rede os deixa na mão.
Para os moradores, se fosse esgoto ou água suja, quando faltasse água na rede de abastecimento, consequentemente a água da “mina” seria interrompida. Mas o fluxo permanece do mesmo jeito, há anos… é mina!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *