A multiplicação de salões de beleza em Paraisópolis

Por Vagner de Alencar para o Blog Mural

Transitar pela comunidade sem dar de cara com, ao menos, um salão de beleza é algo praticamente impossível. Se a “rua das noivas”, na região central de São Paulo, é especializada em lojas para atender o consumo das moçoilas que estão a caminho do altar, em Paraisópolis, na zona sul da cidade, o que não falta são “ruas de salões de beleza”.

A cabeleireira de sotaque baiano
Quando pequena, Joseni Alves da Silva, 38, treinava os primeiros cortes e penteados nas poucas bonecas que tinha. Há 15 anos, tornou-se cabeleireira em solo paulistano, assim que uma condição financeira melhor encarregou-se de apontar em sua vida. Fez um curso para se tornar cabeleireira e trabalha hoje para se tornar uma grande profissional. “Fiz um ano de curso profissionalizante. Na verdade, fiz pra saber se eu estava fazendo certo e, claro, pegar outras técnicas nos salões profissionais”, diz.
Depois de transitar por alguns salões como funcionária, Joseni abriu recentemente seu próprio negócio. Com foco no público feminino, Josy, que deixou Paraisópolis há quatro meses para viver no Taboão da Serra, regressa todos os dias à antiga comunidade para tratar da beleza das mulheres de lá e também dos bairros vizinhos.
“Mesmo quando eu morava aqui tinha minhas clientes fixas, além de outras do Campo Limpo, Taboão da Serra e Jardim São Luis.” Com uma pintada de “boniteza”, como afirma, Joseni, a baiana não pensou duas vezes, e às nove horas da manhã o portão metálico do “Josy Hair” é aberto.
As paredes brancas e poltronas pretas, além de dois pequenos cartazes de produtos de tratamento capilar, enfeitam o cômodo alugado por R$ 400 mensais. Sem aparelhos eletrônicos no recinto, é o barulho dos carros da movimentada rua Herbert que divide espaço com o sotaque baiano de Joseni que dá a trilha sonora durante o exercício de sua profissão, que garante o sustento dos cinco filhos.

O Raí do salão
Railton Queiróz Santana já foi balconista, catador de lixo, vendedor de doces no farol e, hoje, aos 23 anos, é cabeleireiro profissional. No comando de seu próprio salão, ele encontrou no ofício a carreira que jamais pretende largar. “Gosto do faço. Estou sempre me aperfeiçoando. Atualmente faço um curso de hair design e sobrancelha marroquina e outro de cílios postiços”, diz.
Raí, como é conhecido pelos clientes, garante que ter um salão de beleza é muito mais do que pregar na parede um espelho e um diploma de um curso de três meses de duração. “O bom profissional é aquele que sabe tratar o cliente, pensar na satisfação dele, não em cortar dois, três cabelos e achar que não é o suficiente. Muitos salões abrem hoje e fecham amanhã, porque só se pensa no dinheiro”, diz.
Os finais de semana são os dias de maior movimento ao jovem, que chega a trabalhar até às 2h30 da madrugada. O salão unissex garante a heterogeneidade do público. “A quantidade de mulher e homem que vem aqui é a mesma. Enquanto faço o relaxamento no cabelo de um rapaz, vou fazendo a escova em outra cliente e, assim, vou atendendo a todos. Aqui não tem essa coisa de preconceito. Muitos homens não cortam só o cabelo, mas aplicam relaxamento, fazem luzes e ainda a sobrancelha”, declara.
Para Railton, ter o nome do salão em inglês chama a atenção. “Hoje em dia tudo é inglês. Não se fala ‘cabelo’ e, sim, hair; ‘estilo’ é style. Tudo tem que ter uma palavra em inglês, na frente ou atrás.”
O salão modesto guarda a ambição do baiano que sonha no futuro ter sua rede de estabelecimentos. “Ter seu negócio próprio sempre é mais vantajoso. Depois de vários cursos que fiz, dei até aula num instituto de beleza. Meu sonho é ser igual à rede do Jacques Janine, chegar um tempo em que eu possa atender apenas os clientes VIPs”, brinca.

Nas mãos e nos pés de Mary
Maria Rosa Silva Soares, 28, prefere ser chamada por Mary. No salão de beleza alugado, ela só trabalha com hora marcada. Diferentemente de muitos estabelecimentos, o salão de Mary realiza estética capilar e corporal, além de depilação, serviços de manicure e pedicure.
“Meu cliente pode até ir em outro lugar, talvez pela correria do dia a dia, mas ele sempre acaba voltando, por causa do meu trabalho”, assegura. C
om as paredes coloridas, cafezinho fresco, bolachas, biscoitos e guloseimas à disposição dos clientes, a esteticista garante a simpatia. “Eles chegam aqui e perguntam onde estão as bolachas e os doces. Nunca deixo faltar.”
Há pouco tempo cedeu o local de trabalho a um cabeleireiro. “Sempre trabalhei sozinha e, inicialmente, não pensava ‘mexer’ com cabelo. Até que aluguei a cadeira pra ele e cada um trabalha no seu canto. O legal é que quando uma cliente corta o cabelo, ela faz pé, mão e acaba fazendo tudo no mesmo lugar”, revela.
Antes de montar o próprio salão de beleza, Mary trabalhava em uma clínica na Vila Madalena. Hoje ganha menos do que no emprego anterior, mas considera ter conquistado mais autonomia para trabalhar e mais tempo para dedicar aos dois filhos.
Femininas
O salão de beleza das amigas Adriana e Edna ainda não tem nome, mas o ambiente já foi batizado com o “roxinho” que colore os cadeiras e o lavatório. Ambas estão fazendo um curso básico de cabeleireiro, manicure e pedicure.
Adriana Silva da Cruz, 32, cuida dos cabelos alheios, enquanto Edna Ferreira Rodrigues, 30, cuida das mãos e pés de outras mulheres. Há pouco mais de um ano as duas decidiram virar sócias.
Na contramão do jovem cabeleireiro Rai, Adriana não cogita nenhum estrangeirismo para o nome de seu estabelecimento. “Não penso em colocar meu nome aqui no salão, muito menos uma palavra em inglês.”
Nas próximas semanas, o salão, que ainda não tem nome, enfim, receberá sua identidade. “Como a gente trabalha só com o público feminino, estamos pensando em colocar o nome ‘Femininas’”, revela Adriana.

Embora o número gigantesco de salões que lotam as ruas de Paraisópolis , os profissionais-empresários não temem a concorrência, pois para eles a clientela fixa já está conquistada.
Os preços dos salões de beleza são basicamente os mesmos. Quem passar pela comunidade e resolver dar um trato no visual, um corte masculino não ultrapassa os R$ 10; o feminino está na faixa dos R$ 12. A sobrancelha “com design” custa entre R$ 5 e R$ 10; “escovinha”, no máximo, R$ 25. No salão de Raí, por exemplo, se o cliente optar pelo pacote que inclui corte, relaxamento e luzes, o custo pelo tratamento fica por R$45 e ainda recebe gratuitamente uma hidratação.

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