Por uma comunidade mais verde, ex-presidiário cultiva plantas pelas ruas de Paraisópolis
Uma luz na escuridão. Esta é a definição que Israel Joaquim dos Santos, 28 anos, mais conhecido como Rael, dá ao projeto que ele criou. Plantar é Arte é o nome da iniciativa que, segundo ele, começou a partir de um sonho que um dia resolveu colocar em prática há pouco mais de quatro anos.
Quem costuma passar pelas ruas Itajubaquara e Herbert Spencer logo percebe que tem algo diferente. As plantas, os postes pintados e os cestos de lixo em alguns trechos mostram que por essas ruas ocorreram algumas intervenções, cujo objetivo é conscientizar os moradores quanto ao descarte de lixo. “ Eu comecei pintando os postes para chamar a atenção para as lixeiras, para que as pessoas jogassem o lixo no lugar certo, não na rua”, explica Israel.
A iniciativa surgiu timidamente, com pouca ajuda, mas o sonho é grande. “O projeto é como se fosse uma luz na escuridão porque é uma fé, uma esperança que eu tenho de um dia o mundo ter uma mudança, um espelho, um exemplo”, afirma. Rael explica que pretende dar continuidade para melhorar a comunidade e o meio ambiente. “Quero que [o projeto]se estenda para outras gerações”
Apesar de ser um projeto de tamanha importância, Rael lamenta não ter apoio “Eu tenho disposição para fazer e quero fazer outros projetos, mas eu preciso da ajuda de moradores, de voluntários”. Ele afirma que, às vezes, tem que pagar para alguém ajudar, mas como não tem muito recurso, muitas vezes, faz o trabalho sozinho, tendo que conciliar com o seu ganha pão, uma pequena floricultura improvisada em cima do córrego Antonico.
A prisão
O projeto de Israel iniciou em 2014, mas foi logo interrompido devido a sua prisão que, de acordo com ele, foi forjada por policiais. Após três anos de reclusão por tráfico de drogas, o ex presidiário retornou com a ideia o ano passado e resolveu dar continuidade ao projeto.
A prisão, de acordo com Rael, fez com que ele tirasse algumas lições sobre a vida, e as aulas de artesanato o ajudaram a trabalhar com o que tinha, de forma sustentável. Os materiais recicláveis aos poucos tornaram-se cestos para colocar lixo ou vasos para as plantas, tudo customizado com capricho.
O próximo passo é tornar o projeto uma alternativa de capacitação para ex-presidiários para que possam se colocar no mercado de trabalho. Israel ainda não sabe ao certo como fazer, mas ele conta com apoio de pessoas que estejam dispostas a ajudar.
A falta de verde em Paraisópolis
Com um milhão de metros quadrados e abrigando cerca de 100 mil pessoas, Paraisópolis está encravada no bairro do Morumbi, um bairro nobre e que possui muito verde. Já na comunidade, vista do Alto, é possível perceber poucas árvores perdidas na imensidão de tijolos vermelhos. Algumas das árvores são o que restaram da antiga fazenda do Morumbi, outras foram plantadas por moradores. Israel se orgulha em ter plantado uma das poucas árvores que tem na região. O exemplar fica na esquina da rua Herbert Spencer com a rua Santa Francisca. “ Vou te mostrar a árvore que plantei faz 8 anos”, conta orgulhoso enquanto caminha até o local.
A favela Paraisópolis é dividida em cinco micro regiões: Centro, Grotão, Grotinho, Brejo e Antonico, uma das áreas mais críticas. A área foi atingida por alguns incêndios e há anos espera pela execução do programa de urbanização de favelas. A região também tem muito lixo e um córrego a céu aberto, basta uma simples chuva para alagar tudo.
Para Israel, o abandono da prefeitura prejudica ainda mais a situação dos moradores. “Aqui sempre foi discriminado, porque é um lugar sujo, um lugar abandonado. A prefeitura não faz nada. Então, nós estamos tentando mudar essa realidade”, finaliza.