Comunidade de Paraisópolis rejeita diretora de escola

Do R7

Comunidade de Paraisópolis rejeita diretora de escola
Colégio Etelvina de Góes Marcucci teve a pior nota no ranking do Ideb, de 2,6 pontos

Letícia Casado, do R7

A diretora do colégio Etelvina de Góes Marcucci, Sofia Elena Baccari, é acusada de ser agressiva por alguns membros da comunidade de Paraisópolis

A curva acentuada da rua Dr. José Carlos Piza é ponto de encontro do fim da favela de Paraisópolis, a segunda maior de São Paulo, com o luxuoso bairro do Morumbi. É por ali que está o colégio Etelvina de Góes Marcucci. A instituição teve a pior nota no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) para a segunda fase do ensino fundamental (6º ao 9º ano). O indicador mede a qualidade do ensino no Brasil e foi divulgado na semana passada pelo MEC (Ministério da Educação).
O caso do colégio é emblemático não apenas pela pior colocação no ranking, mas pelo mal-estar que envolve a comunidade de Paraisópolis e a dirigente da instituição, Sofia Elena Baccari. A escola estadual Etelvina divide o muro com outra instituição, a Maria Zilda Gamba Natel – que também pertence à rede do Estado. Na avaliação do Ideb, a Etelvina teve nota 2,6 e a Maria Zilda, 3,8. A escala vai de zero a dez. A melhor nota desse grupo ficou para a escola de Aplicação da USP (Universidade de São Paulo), com nota 6,2, mais que o dobro do resultado do Etelvina.
Alunos e moradores atribuem à direção das escolas de Paraisópolis as diferenças no rendimento dos estudantes. Dizem que o Maria Zilda “é aberto”, desde sua entrada até a coordenação, enquanto o Etelvina “parece uma prisão, cheio de cadeados nas portas”. De fato, quando a reportagem esteve no local, o primeiro tinha portas abertas e funcionários na rua, e o segundo, apenas uma janela para a secretaria.
A diretora Sofia Elena diz não saber por que a escola teve uma nota tão ruim na avaliação do governo. Ao R7, se eximiu da culpa pelo baixo rendimento de seus pupilos e alegou que permaneceu afastada do centro de ensino por oito meses, entre o fim de 2008 e o segundo semestre de 2009. Por isso, segundo ela, não poderia fazer uma análise sobre o mau desempenho dos alunos.
O afastamento foi resultado de uma pressão feita pela Associação de Moradores de Paraisópolis. A ex-aluna Elizandra de Oliveira Cerqueira diz que a entidade fez um pedido para a retirada definitiva da dirigente, mas conseguiu por apenas seis meses. A diretora confirma e diz que juntou a esse tempo outros dois meses de licença-prêmio. Mesmo assim, isso não justifica o desempenho dos estudantes, pois na outra edição do Ideb, em 2007, a nota do colégio foi 2,9. Ela já era diretora do Etelvina na época da avaliação. Agora, a nota caiu ainda mais.
Denúncias
Sofia Elena é descrita como uma pessoa agressiva. Há relatos de que teria retirado à força do colégio uma aluna que estava atrasada para a aula. Djenny Teixeira de Jesus conta ter visto a confusão.
– A única coisa que vi foi ela [Sofia Elena] segurando o braço de uma aluna, que por isso empurrou ela.
A dirigente nega esta e todas as outras acusações.
– Nem tenho força para isso. O máximo que poso fazer é chamar a polícia. Jamais faria isso.
Sofia Elena diz que os estudantes do Etelvina são difíceis de lidar, e que “tem aluno que ameaça e cospe em professor”. Para Djenny, a diretora é “arrogante”.
– Já discuti com ela por me acusar de cabular aula.
A Associação de Moradores acusa a coordenadora de ter ignorado uma proposta de parceria com uma entidade financeira, que ofereceria bolsas de estudos para alguns alunos. A diretora diz que nem ficou sabendo do projeto.
A Secretaria de Educação do Estado não soube dizer qual o período exato do afastamento da diretora. Em nota, diz que apurou as denúncias feitas pelos moradores e transmitidas pela reportagem, e que nada foi comprovado. Quanto ao rendimento da escola no Ideb, o governo se comprometeu a oferecer aulas de reforço nas disciplinas de matemática e português.

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