O Globo
Contra a violência, investimentos em educação
José Meirelles Passos e Demétrio Weber
Um dos fatores de maior destaque no seminário educação na Primeira Infância, encerrado ontem na sede da Fundação Getulio Vargas, no Rio, foi a constatação dos especialistas de que, quanto mais um governo investe em educação, maior é o retorno à sociedade em termos de redução dos índices de violência — além dos efeitos positivos diretos na Economia do país e no bem-estar da população.
— No fundo, implantar uma boa política educacional significa, ao mesmo tempo, propiciar uma boa política de saúde, uma boa política familiar e uma boa política antiviolência — disse ao GLOBO o prêmio Nobel de Economia de 2000, James Heckman, que participou do evento.
Um estudo realizado por ele em colaboração com três brasileiros — Flávio Cunha, Aloísio Araújo e Rodrigo Leandro de Moura — mostrou que é possível reverter a violência, pelo menos parcialmente, por meio de programas mais abrangentes de educação que deem maior ênfase à primeira infância.
Eles calcularam que poderia sobrar à sociedade brasileira R$ 23 bilhões a mais, por ano, para aplicar em iniciativas produtivas, se o governo utilizasse melhor os recursos in vestidos em educação. Aquele valor é equivalente ao que o país pouparia se conseguisse baixar o custo da violência para pelo menos uma média de R$ 400 por pessoa por ano.
Hoje, levando-se em conta valores ajustados pela inflação (e tendo 2004 como ano base), o custo da violência para o setor público é de R$ 176 per capita.
Já o setor privado gasta cerca de R$ 343 per capita para se proteger da violência. A soma dá um total de R$ 519 anuais. Ou seja, cerca de 4,8% da renda per capita brasileira.
O maior item naquele gasto se refere à perda de capital humano em decorrência da criminalidade: 38,4%. Os gastos com seguro são 23,3%, e o custo das transferências das vítimas para os ladrões, por meio de roubos e furtos, chega a 15,1%.
O seminário discutiu estudos práticos que comprovaram os benefícios de investimentos mais abrangentes em educação na infância. Como ainda não existe no Brasil um levantamento sobre a relação custo-benefício em relação ao que o dinheiro investido em educação rende no combate à violência, os pesquisadores utilizaram os dados referentes aos Estados Unidos. Eles mostram que as pessoas adultas, com baixo nível educacional, “são muito mais propensas a cometerem crimes do que aquelas com elevado nível educacional”.
Segundo os autores, um aumento de apenas um ano na escolaridade reduz em 0,37 ponto percentual a probabilidade de participação no crime.
“O FBI (polícia federal americana) mostra que o aumento da educação reduz muito for temente a propensão de um indivíduo cometer um homicídio ” — diz um trecho do estudo.
Heckman , que é professor da Universidade de Chicago, acrescentou que os gastos com a contratação de um policial — incluindo o seu treinamento anual obrigatório — custa o equivalente ao de aumentar em 50 o número de adolescentes que concluem o segundo grau.
O seminário da FGV reuniu especialistas brasileiros e estrangeiros.