Morumbi quer mais segurança; Paraisópolis, respeito

Do Blog da Época SP – Adote São Paulo de Milton Jung

Tem Casas Bahia, tem Correios e tem Banco do Brasil. O que não falta é loja de construção. Não é difícil encontrar farmácia por ali. Tem CEP em algumas ruas e a luz elétrica (oficial) chegou faz pouco tempo. A Maria mora lá. O Zé, também. Os meninos e meninas deles estudam bem pertinho. Não é no CEU, mas um CEU foi entregue em 2008. São 13 escolas, para meu espanto. Tá certo que duas delas estão entre as piores da cidade. Campo de futebol, quadra de esporte e jogador de rugby fazem parte do seu patrimônio. E uma das primeiras rádios comunitárias da capital está no ar desde o ano passado.
Na zona sul de São Paulo e na borda do Morumbi, Paraisópolis, que ganhou o status de comunidade mas não perdeu o estigma de favela, só não tem posto da polícia. Lá dentro, a PM costuma aparecer correndo atrás de algum suspeito. E correndo sai de lá para não se machucar. Nos últimos anos, por duas vezes, ocupou espaços, a última foi em 2009, após rebelião de algumas pessoas provocada pela morte de um conhecido em troca de tiros com policiais. Mas a Operação Saturação tem data de validade e assim que os policiais e suas viaturas luminosas deixam o lugar, a população fica a deus-dará.
Neste domingo, moradores do Morumbi e todos os demais bairros que receberam este nome por adoção se encontrarão na Praça Vinícius de Moraes, bem pertinho do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo. Às 10 e meia, com hino nacional, pompa e circunstância se darão as mãos e depois passarão abaixo-assinado pedindo que a PM coloque uma base comunitária fixa, funcionando 24 horas, dentro da Paraisópolis. Querem, também, elevação no número de policiais civil e militar, adaptando-o ao crescimento da população.
A reação se deve a frequência dos assaltos na rua Doutor Francisco Thomaz de Carvalho, vulgo Ladeirão, caminho da avenida Morumbi à Giovanni Gronchi. E, também, a ataques feitos por bandidos a residências da região, alguns resultando na morte a tiros de moradores. É verdade que casas têm sido roubadas em toda a cidade, foram 1.520 no primeiro semestre do ano – mais de oito por dia -, e também que o Morumbi ganha destaque pela fama do bairro. Mas as estatísticas mostram que ele, a vizinha Vila Sônia, além de Campo Belo e Vila Clementino, todos na zona Sul, são os principais alvos dos bandidos. Os quatro concentraram 16% dos roubos.
A população na região cresceu em velocidade bem maior do que a do efetivo policial, alerta o diretor do Conseg Portal do Morumbi, Agnaldo Oliveira: “O Censo do IBGE 2010 mostrou que a população na Vila Andrade aumentou 73% em uma década e, desde 1999, não tem concurso para a Polícia Militar, apesar de cerca de 3 mil policiais deixarem a corporação a cada ano”. Lembrou, também, da falta de iluminação que prejudica ações de combate a violência e o baixo investimento em infra-estrutura
Ninguém entende melhor de falta de infra-estrutura do que os moradores de Paraisópolis, onde apenas recentemente as ruas passaram a receber algum cuidado com o plano de revitalização dos governos Federal, Estadual e Municipal. Poucos como eles sabem o que significa viver refém da criminalidade, sem direito a protestar, pois não têm a quem pedir ajuda nem a mídia para reverberar seu grito. Por isso mesmo, devemos ter o cuidado para não cairmos na tentação de aumentarmos o muro que separa o Morumbi da Paraisópolis. Um não existe sem o outro, menos ainda contra o outro. Imaginar que a solução do lado de cá está na repressão do lado de lá, é um erro que apenas acirrará ainda mais os problemas de segurança pública.
Para que o preconceito não contamine uma reivindicação justa de moradores deste tradicional e conhecido bairro paulistano, seria uma boa oportunidade que ao menos parte daqueles que estarão na manifestação dominical aproveite para na véspera, sábado, visitar a IV Mostra Cultural de Paraisópolis, a partir das 9h30, no CEU, que fica na rua Dr. José Augusto de Souza e Silva, em que o personagem principal será o livro, homenageado em exposições de arte, contação de histórias, apresentações de dança, teatro e música.
Porque assim como Casas Bahia, Correios, Banco do Brasil, CEU e emissora de rádio, a Paraisópolis também tem muita gente boa que precisa ser valorizada. Só não tem policia.

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