Precariedade e violência marcam educação em Paraisópolis

DO R7

Precariedade e violência marcam educação em Paraisópolis

Material destruído e falta de respeito aos professores marcam a educação no local

Letícia Casado, do R7

Djenny Teixeira de Jesus passa frio dentro da sala de aula; vidros da janela foram arrebentados

Carteiras pichadas, janelas com vidros quebrados pelos estudantes, banheiros em péssimas condições de uso e falta de autoridade que imponha controle sobre os jovens. Os alunos do colégio Etelvina de Góes Marcucci, na favela de Paraisópolis, zona sul de São Paulo, quase nunca vão à aula na sexta-feira e os pais reclamam que os professores liberam as crianças antes do horário oficial durante a semana.
A instituição teve a pior nota no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), de 2,6 pontos em uma escala de zero a dez, entre os alunos do segundo fundamental (6º ao 9º ano). O indicador mede a qualidade do ensino no Brasil e foi divulgado na semana passada pelo MEC (Ministério da Educação). A escola de Aplicação da USP ficou em primeiro lugar no ranking estadual para este nível escolar, com nota 6,2.
O descaso com o espaço comum afeta a concentração dos adolescentes, que sentem os danos do material destruído. Djenny Teixeira de Jesus cursa o 3º colegial e está decepcionada com a escola. Ela conta que passa frio dentro da sala de aula durante o inverno porque alguns vidros da janela foram arrebentados pelos próprios estudantes.
A garota de 18 anos se sente insegura no local onde deveria estar protegida para aprender. O uso do uniforme na Etelvina não é obrigatório e não existe nenhum tipo de identificação do aluno na entrada.
– Qualquer pessoa pode entrar na escola.
A reportagem pode conferir que alguns banheiros estavam quebrados. Em um deles, ao abrir a torneira, a água caiu diretamente no chão por baixo da pia, diretamente no pé. Em outro, não havia água.
A Secretaria de Educação do Estado afirmou que a escola vai propor “atividades de valorização do patrimônio público e de aproximação da comunidade”, como uma das medidas para melhorar o nível escolar e aumentar a nota do Ideb. Além disso, planeja oferecer aulas de reforço em português e matemática.
Crianças
O estilo agressivo dos adolescentes do Etelvina de Góes é conseqüência de outro problema que começou bem mais cedo: a violência no entorno. Em Paraisópolis também está a escola municipal Paulo Freire, que teve a nota mais baixa entre as da rede para o ensino da primeira fase do fundamental (1º ao 5º ano). O resultado ficou em 3,1 pontos. A reportagem solicitou entrevista com a diretoria da instituição, mas não obteve retorno.
A violência também marca o cenário por lá. Uma pessoa ligada aos educadores da Paulo Freire conversou com a reportagem sob a condição de anonimato e disse que é notável admiração por traficantes e bandidos entre os pequenos. E citou o caso de uma criança da 3ª série do fundamental que já ameaçou um professor de morte.
– O que eles vêem durante a noite [tráfico de drogas] acontece ao ar livre nos finais de semana. Isso afeta na formação da pessoa.
O contexto extremamente negativo e as más referências que dominam o dia a dia desses brasileiros em Paraisópolis mostra que vai levar bem mais tempo do que o governo imaginou para alavancar o Ideb da região. O plano é que o Etelvina de Góes tivesse conseguido nota 3,0 em 2009, e o Paulo Freire, 4,2.

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