A importância da comunicação no fortalecimento da cultura periférica
Durante o evento Favela Cria 2023, evento realizado nos dias 17,18 e 19 de agosto, no pavilhão social do G10 Favelas, entre as rodas de conversas do evento, foi abordado a importância da comunicação como ferramenta de fortalecimento para a cultura da periferia. Através dos veículos de comunicação independentes, influencers, blogs e podcasts, a cultura de quebrada está sendo valorizada e registrada, levando o nome dos nossos artistas e dos nossos bairros cada vez mais longe.
As jornalistas Fran Rodrigues e Gisele Alexandre, que integram a equipe de gestão do Grupo Cria, há anos fazem o trabalho de fortalecimento da cultura periférica nos territórios em que atuam, e contaram sobre suas iniciativas durante o último dia do Favela Cria.
O Potência Periférica, iniciativa criada por Fran, surgiu em 2018, em Paraisópolis, com intuito de dar visibilidade aos artistas, coletivos e projetos culturais que fazem a diferença dentro do território. A proposta do projeto é criar espaços para que os jovens da comunidade possam expor sua arte, por meio da realização de saraus, batalhas de rima e outras ações culturais e de comunicação: “Quando a gente buscava por iniciativas culturais, normalmente elas estavam lá no centro da cidade e era muito distante e não comunicavam com os territórios que estavam longe do centro. Muitas vezes os próprios coletivos tinham que ir para o centro da cidade para buscar fomento e ter parcerias”, revela a jornalista que há mais de 10 anos atua na comunicação de território.
Já no Manda Cultura, projeto idealizado em 2022 por Gisele, tem como território de atuação os distritos do Capão Redondo, Campo Limpo, Jardim Ângela, Jardim São Luís. O projeto, que no ano passado foi contemplado da 7° Edição do Programa de Fomento à Cultura da Periferia da Cidade de São Paulo, também tem a missão de dar visibilidade aos artistas, coletivos e movimentos culturais que não alcançam as mídias tradicionais em suas divulgações.
“No site e nas redes sociais do Manda Notícias, o nosso veículo de comunicação, a gente divulga as ações culturais locais como literatura, música, teatro, dança, grafite, sarau, slam entre outros. Além disso, temos também tem um programa semanal de podcast, onde entrevistamos os artistas locais”, conta Gisele. “Mas o projeto Manda Cultura, também tem um programa de formação de jovens comunicadores locais, onde ensinamos técnicas de jornalismo cultural periférico, produção multimídia etc e também estamos desenhando um evento, onde queremos reunir tudo que fazemos em um só espaço”, completa.
Batalha de rima: poesia e inteligência
As batalhas de rima também atuam como ferramentas que fortalecem a cultura da periferia. Através da comunicação pregada nestes encontros, é possível mobilizar participantes em torno da disputa. A comunicação somada ao senso de pertencimento com a cultura hip hop, o empenho dos organizadores para a realização das batalhas, é essencial para manter a conexão entre os MC´s e a plateia que assiste às disputas.
As batalhas de rima se tornaram um ambiente diverso e democrático dentro das periferias, a popularização destes eventos demonstra como o movimento hip hop evoluiu e tem abraçado cada vez mais pessoas. A Batalha do PSA (Parque Santo Antônio) por exemplo, possui regras próprias, que buscam respeitar todos os participantes do evento, sem discriminações ou preconceitos.
A mesa “Batalha de rima”, que aconteceu no Favela Cria 2023, abordou questões sobre como funciona uma batalha de rima, organização, regras e a comunicação. A conversa foi mediada por mim, Leonardo, e teve participação de Wes, um dos organizadores da Batalha do PSA, e Cristiano Tostes, MC de batalha de rima, atualmente proprietário da produtora musical Outlaws.
“Na batalha do PSA, nós temos uma forma de gerenciar ela, a gente aplica cartões, como no futebol mesmo. Por exemplo, se um MC ataca o outro pela aparência, for racista ou homofóbico, a gente aplica o cartão amarelo. Se ele insistir nisso, a gente aplica o cartão vermelho”, conta Wes, durante a roda de conversa. “Na Batalha do PSA, qualquer mina que chegar tem vaga garantida, independente do sorteio”, completa.
Através da comunicação exercida por estes representantes das periferias, é possível conscientizar uma geração de jovens periféricos que estão dentro da cultura hip hop. A mensagem que é passada comunica sobre como é importante ter respeito pelo próximo independente da disputa, e sobre a necessidade de estar preparado para as adversidades, seja numa batalha de rima ou vida.
“A gente aprende, o freestyle é isso, se colocando e debatendo. Quando a gente perde, a gente aprende muito mais, e vai aprendendo a linguagem técnica e como se comportar na frente do público”, disse Cristiano Tostes.
O último ato: a batalha de tema
A última apresentação do evento Favela Cria 2023, foi a batalha de rima. A disputa contou com MC ‘s da Batalha do PSA, na zona sul de São Paulo, e a Batalha do Moritz, do Taboão da Serra, região metropolitana de São Paulo. A batalha teve grande diversidade entre os
MC ‘s, homens, mulheres e crianças. A disputa foi realizada com base nos temas sugeridos pelo público, como criatividade, comunicação e impacto e respeito.
Pelo lado da Batalha do PSA batalharam Melinka, Dreza, Sanatório e MSK. Pelo Moritz batalharam Andy, LC, e Mc MTS e Mc GN. A grande final da batalha de rima no Favela Cria 2023 foi entre Sanatório e LC, na chamada disputa de sangue, quando não existe tema pré-definido para rimar, apenas o verso livre de um MC contra o outro MC. O público escolheu LC como o campeão, após disputa tensa com Sanatório.
A Cria de Periferia, marca de Paraisópolis, que expõe o estilo de vida de pessoas da periferia, presenteou os primeiros colocados com as camisetas da nova coleção, em colaboração com o jornalista e apresentador Thiago Simpatia. O campeão, LC, além da camiseta, foi convidado para uma entrevista para o Cria Podcast.