“Foi aqui que formei minha família, conheci pessoas e construí minha vida. Para mim, Paraisópolis se resume em uma palavra: casa.”

“Foi aqui que formei minha família, conheci pessoas e construí minha vida. Para mim, Paraisópolis se resume em uma palavra: casa.”

Conheça a história de Sueli Cândido que nasceu e cresceu na segunda maior favela de São Paulo

Minha relação com Paraisópolis é desde de criança, mas começou com os pais dos meus avós, que vieram de Minas Gerais e são uns dos primeiros moradores daqui. Eles moravam na região que chama de “Pé Inchado”, próximo a Avenida Hebe. Depois da chegada dos meus bisavós, meus avós vieram abrindo caminho para o restante do pessoal e foi aí que meus pais se conheceram. A região era de mata, era tudo uma chácara, e a minha família vivia da plantação de arroz, banana, goiaba e a lembrança mais doce que tenho da época de criança, foi uma gangorra que meu avô fez, para gente ter um espaço de lazer perto de casa. 

Eu e meus pais morávamos próximo ao AMA (Assistência Médica Ambulatorial) na antiga rua Amparo, que minha mãe construiu com muito custo. Em nosso quintal tinha muita fruta plantada, até hoje tem o pé jabuticaba que plantei, tinha também limão e pitanga. Havia um banheiro do lado de fora e, para higienizar, enchiámos o balde com a água do poço que tinha no quintal, onde também ficavam meus cachorros. Nessa época não havia energia elétrica, morávamos no barraco, eu tinha em torno de 7 anos foi a melhor fase da minha vida,  brincávamos na rua, jogávamos pião, bolinha de gude junto com meus irmãos e eu ajudava minha mãe nas tarefas de pegar água no poço.

Nossa casa caiu depois de uma enchente e ficamos sem moradia. Foi uma vizinha que nos ajudou, pois nessa época minha mãe e meu pai já estavam separados e depois de um certo tempo fomos para uma casa pequena de alvenaria. Era meu sonho ter em casa um chuveiro com água quente e quando chegou a luz em Paraisópolis foi tudo de bom. Antes, nosso banho era de canequinha, precisávamos economizar o gás, e a gente enchia uma lata de tinta daquelas grandes, sabe?! Colocava no fogo à lenha para esquentar, era assim que tomávamos banho quente. 

Meu primeiro emprego foi no Mc Donald’s, na Av Giovanni Gronchi, lá eles contratavam as pessoas da favela, não havia preconceito, apesar de nós sentirmos vergonha de dizer que morávamos em Paraisópolis e, quando perguntavam, dizíamos que morávamos no Morumbi.

Foi aqui que formei minha família, conheci pessoas e construí minha vida. Para mim, Paraisópolis se resume em uma palavra: casa.

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